Anel de Fogo

O post dessa semana é sobre “Ring of Fire”, um dos maiores sucessos da carreira de  Johnny Cash. A música, que foi escrita por June Carter, entrou no álbum Ring of Fire: The Best of Johnny Cash, de 1963.

Originalmente, a canção foi gravada por Anita Carter, irmã de June. Logo que ouviu a música, Cash se encantou. Disse que, em um sonho, ele ouvia “Ring of Fire” com um arranjo diferente, no estilo mariachi. Resultado: a versão do Man in Black foi um enorme sucesso. Tanto que ficou em primeiro lugar nas paradas da Billboard por sete semanas seguidas!

June teria escrito a canção para falar de seu relacionamento com o Homem de Preto. Ela sentia que se envolver com Johnny Cash era como estar em um anel de fogo. Afinal, Cash ainda era casado com Vivian Liberto, sua primeira esposa, e tinha uma vida muito conturbada nessa época.

Porém, existe uma outra versão para essa história. Em sua autobiografia, Vivian diz que a música, na verdade, foi escrita pelo próprio Johnny Cash quando ele estava bêbado. E que a letra fazia referência a uma determinado orifício do corpo feminino. Essa declaração causou muita polêmica na época.

Covers

Entre os artistas que regravaram “Ring of Fire” estão Tom Jones, Alam Jackson, Ray Charles, Jerry Lee Lewis e Frank Zappa, além das bandas The Animals e Social Distortion. Confira algumas dessas versões e, claro, a versão do grande Man in Black:

Procura-se

Hoje vou falar de uma das músicas que mais gosto de ouvir na voz de Johnny Cash: “Wanted Man”. Embora não seja muito popular entre os fãs, trata-se de uma ótima canção do Homem de Preto. Além, é claro, de ter nascido de uma forma muito especial.

Tudo começou com o épico encontro entre Bob Dylan e o Homem de Preto, em fevereiro de 1969. em Nashville. Na ocasião, tocaram cerca de dezoito músicas juntos e “Girl From the North Country” acabou entrando no novo álbum de Dylan. Durante sua estadia na cidade, Bob escreveu “Wanted Man” para o amigo.

“Na semana passada, em Nashville, Bob Dylan, um dos melhores escritores… Bem, eu não preciso dizer que Bob Dylan é o maior escritor do nosso tempo. Ele estava na minha casa, nos sentamos e escrevemos uma música juntos”,disse Johnny Cash na época.

A letra fala de um homem procurado em diversos estados e cidades americanas, como California, Buffalo, Ohio, Mississipi, Colorado, El Paso, entre outros. Só não sabemos se ele é procurado pela polícia, por bandidos ou por mulheres. Já que há a citação de que Lucy Watson, Jeannie Brown e Nellie Johnson estavam atrás dele. A música tem uma levada sensacional, contagiante e é “a cara” de Cash!

“Wanted Man” foi lançada no álbum ao vivo At San Quentin e depois entrou na trilha sonora do filme “Little Fauss & Big Halsy”. Ela ainda voltaria a aparecer nos discos The Mystery of Life, de 1991 e, Wanted Man, de 1994.

Nos anos 2000, foram lançadas duas coletâneas que levam o nome da canção. Em 2002, tivemos Wanted Man: The Very Best of Johnny Cash (Columbia) e, seis anos depois, Wanted Man: The Johnny Cash Collection (Sony)

Com vocês, Johnny Cash cantando “Wanted Man”:

 

 

O Velho 97

Hoje vou falar da música “Wreck of the Old 97”, regravada por Johnny Cash e que possui muita história. Porém, antes de falar da canção em si, é preciso contar sobre sua inspiração: um acidente de trem.

O Velho 97 era um trem do século passado, que fazia a viagem de Washington para Atlanta, nos EUA. Em 27 de setembro de 1903, ele acabou descarrilhando perto de Danville, Virginia. Onze pessoas morreram e sete ficaram feridas.

A música, que foi inspirada nesse famoso acidente, foi lançada em 1924 pelos músicos GB Grayson e Henry Whitter e é considerada o primeiro grande sucesso da música country. Desde então, “Wreck of the Old 97” foi gravada por inúmeros artistas como Pete Seeger, The Seekers, Hank Snow, Johnny Cash e Hank Williams III.

A briga para saber quem realmente escreveu a canção foi intensa. Fred Jackson Lewey e Charles Noell afirmaram reivindicaram a autoria da música. Lewey dizia estar presente no dia do acidente e que era primo de um dos bombeiros que trabalharam no local. Mas, em 1927, a Justiça americana declarou que George David Graves, um morador local, como o compositor oficial.

A primeira vez que o Homem de Preto gravou a canção foi em seu álbum de estreia With His Hot and Blue Guitar, em 1957. Posteriormente, ela entrou em outros discos como I Walk the Line e At San Quentin (onde temos uma versão matadora).

Curiosidade: O filme “The Blues Brothers” faz uma referência a esse grande clássico da música americana. Enquanto a banda estava ensaiando algumas músicas, o personagem Elwood diz: “Desculpe, mas não consigo me lembrar de “The Wreck of the Old 97”.

Ouça, abaixo, algumas versões da música:

 

 

O Homem Solitário

A música dessa semana é “Solitary Man”. Escrita e gravada por Neil Diamond, a canção ganhou várias versões posteriormente nas vozes de Chris Isaak, Johnny Rivers e, claro, Johnny Cash. Em 2005, a revista Rolling Stone fez uma matéria afirmando que “Solitary Man” continua a ser a música mais brilhantemente eficiente da carreira de Diamond.

Todo esse sucesso só foi superado mesmo pela versão de Johnny Cash. A regravação aconteceu no American III: Solitary Man, de 2000, e rendeu a ele um Grammy de Melhor Performance Masculina. O álbum ainda trouxe as versões de “One” (U2) e “I Won´t Back Down” (Tom Petty).

Apesar da letra de “Solitary Man” refletir perfeitamente a personalidade de Neil Diamond, ela caiu como uma luva para Cash. Sua versão ainda foi usada no penúltimo episódio da série Stargate e também no filme Solitary Man, estrelado por Michael Douglas.

NEIL DIAMOND – SOLITARY MAN

 

Johnny Cash – Solitary Man

 

Johnny Cash na novela?

Recentemente, a música entrou para Amor Eterno Amor, novela da Rede Globo, como tema do personagem principal. Quando as pessoas ouviram “Solitary Man” na trama, a maioria achou que se tratava da versão do Homem Preto. Porém, quem canta é o jovem cantor Dan Torres. Para quem não está lingando nome à pessoa, ele participou do programa “Fama”, em 2003. A verdade é que Dan confundiu quase todo mundo, já que conseguiu atingir um timbre de voz muito parecido com o de Johnny Cash, além de ter usado o mesmo arranjo musical. Confira, abaixo:

Johnny e o psychobilly

Uma das coisas mais legais de Johnny Cash eram as letras de suas músicas. Sempre retratando situações envolvendo bares, prisões, armas e cowboys, o músico reforçava ainda mais a imagem de “homem mal”.

Hoje, vou falar da música “One Piece at a Time”, que foi gravada em 1976. A canção,  escrita pelo compositor Wayne Kemp, possui um fato histórico. Foi nela que surgiu, pela primeira vez na história, o termo psychobilly – que alguns anos depois seria usado para denominar o gênero musical que misturava rockabilly com punk rock.

A canção fala de um homem que, em 1949, deixa sua casa no Kentucky para trabalhar na linha de montagem da General Motors, em Detroit, Michigan. Ele olha para os belos Cadillacs que ajuda a montar, sabendo que nunca será capaz de pagar por um.

É nesse momento que o nosso personagem e um colega de trabalho decidem roubar, aos poucos, as peças dos carros. A ideia é acumular as partes necessárias para, um dia, conseguirem montar o seu próprio carro. Para que ninguém desconfiasse de nada, eles escondiam as peças pequenas em suas lancheiras de trabalho.

Depois de 24 anos acumulando peças, enfim a dupla resolve montar o carro. O resultado é um Cadillac esquisito, criado a partir de peças de diversos modelos e cujas peças não se encaixam muito bem. Como a música mesmo diz, um “Cadillac Psychobilly”.

jOHNNY CASH – ONE PIECE AT A TIME

No mesmo ano em que a música foi lançada, Bruce Fitzpatrick, proprietário da Auto Peças Abernathy, em Nashville, TN, foi convidado pelos produtores de Cash para construir um veículo para promover a canção. Fitzpatrick tinha todas as peças mencionadas na música. O resultado foi apresentado a Johnny em abril de 1976 (foto).

A ideia de construir um carro com uma peça de cada vez agradou tanto que um trabalhador chinês de uma linha de montagem de motocicletas, em Chongqing, resolveu tentar o mesmo. Demorou cinco anos, mas ele conseguiu.

O Grande Rio

A música de hoje é, na minha opinião, uma das melhores do Man in Black. “Big River” foi escrita por Johnny Cash e lançada, em 1958, como single pela Sun Records. A faixa alcançou o número #4 da Parada Country da Billboard, ficando lá por 14 semanas seguidas.

JOHNNY CASH – BIG RIVER

Covers

A banda The Grateful Dead sempre tocava uma versão em seus shows. Dizem até que essa era uma das músicas que mais vezes foi executada durante a carreira do grupo. Outra famosa cover foi feita pela banda country Trick Pony. Em seu album de estreia, gravaram “Big River”, dividindo os microfones com Waylon Jennings e com o próprio Johnny Cash.

Outro grande nome da música que regravou a canção foi Hank Williams Jr., no disco Singing my Songs – Johnny Cash (que contém apenas músicas do Homem de Preto). Além disso, em 2011, a banda The Secret Sister fez uma versão com participação de Jack White nas guitarras.

Outra boa versão é a de Tim Armstrong, vocalista da banda Rancid. No início deste ano ele tocou “Big River”, em versão acústica, para o podcast do portal Guitar Center.

 

My name is Sue!

“A Boy Named Sue” é, certamente, a música mais engraçada que Cash já gravou. Escrita por Shel Silverstein, ela faz parte do álbum At San Quentin, gravado na Prisão Estadual de San Quentin, em 24 de fevereiro de 1969.

Trata-se do maior sucesso comercial do Homem de Preto. Afinal, a música ficou por duas semanas seguidas em 2º lugar na Hot 100que é a principal parada musical da Billboard.

A canção narra a história de um rapaz que foi abandonado pelo pai, quando ainda era uma criança. O lado cômico de tudo isso é que a maior revolta do garoto é pelo fato do pai ter lhe dado o nome de “Sue” (tipicamente feminino). Irritado com o constrangimento que permanece por toda sua vida, ele jura que vai encontrar o pai e matá-lo!

De tanto procurar, Sue acaba achando o pai e parte para cima do velho com toda sua fúria.  Depois de muita luta e, com uma arma apontada para sua cabeça, o pai explica o verdadeiro motivo de ter dado aquele nome ao filho. Sabendo que ele não poderia criar o garoto, resolveu chamá-lo de Sue para se certificar de que ele cresceria forte e durão. O rapaz então percebe as boas intenções do pai, se emociona e acaba perdoando tudo.

A música termina com Sue prometendo que, se um dia tiver um filho, com certeza vai chamá-lo de… “Bill, George ou qualquer porcaria, mas Sue!? Eu ainda odeio aquele nome!”.

A BOY NAMED SUE

  • O termo “filho da puta” (“Eu sou o filho da puta que te deu o nome Sue!”) foi censurado na época. Cash precisou substituir a expressão pela palavra “maldito” para que a música pudesse ser executada nas rádios americanas;
  • Em um episódio de O Laboratório de Dexter, o vilão Mandark lembra que na infância seus pais o vestiam de menina e o chamavam de Sue (Susan).

Cowboy Fantasma

De todas as músicas que Johnny Cash já gravou, a mais western é “(Ghost) Riders in the Sky”. A canção foi escrita em 1948 por Stan Jones, um legítimo cowboy. Na época, o músico compôs diversas trilhas para filmes de faroeste, além de ter participado de alguns como ator.

A letra fala de um velho vaqueiro que um dia avistou no céu um rebanho sendo perseguido por vários cowboys fantasmas. Então os “condenados” lançaram um aviso ao vaqueiro: Se ele não mudasse seus modos, seria condenado a juntar-se a eles e cavalgar eternamente no infinito céu.

Até hoje, mais de 50 artistas já gravaram “(Ghost) Riders in the Sky”. Entre eles, temos Elvis Presley, Dick Dale, The Outlaws, R.E.M. e Johnny Cash. Até Milton Nascimento fez uma versão em português para a música!

Johnny Cash – (Ghost) Riders in the Sky

Curiosidades

1. Robby Krieger, que foi guitarrista da banda The Doors, conta que “Riders on the Storm” foi inspirada justamente em “(Ghost) Riders in the Sky”.

2. A torcida do time inglês Aston Villa canta uma versão da música nos estádios. Mas, claro, com uma letra bem diferente.

3. A música inspirou também a Marvel Comics, que criou o personagem “Ghost Rider” (conhecido no Brasil por “Cavaleiro Fantasma”). A HQ foi publicada pela primeira vez em 1967.

Na forca

A música dessa semana é “25 Minutes to Go”. Sua primeira gravação aconteceu em 1963 pela banda folk Brothers Four. Três anos mais tarde, Johnny Cash a regravou nos álbuns Sings the Ballads of the True West  e no mitológico At Folsom Prison. A canção foi escrita pelo grande poeta e compositor Shel Silverstein, famoso pelo livro The Givin Tree – que no Brasil foi traduzido por Fernando Sabino.

A letra de “25 Minutes to Go” é uma brincadeira sobre um prisioneiro que foi condenado à forca. O personagem faz comentários engraçados sobre a situação e começa a contagem regressiva. E, claro, essa contagem começa aos 25 minutos. Conforme os minutos vão passando, o condenado vai percebendo que o perdão não virá e que seu destino está decretado.

Depois de Cash, músicos de vários países fizeram suas versões. Mas a melhor delas foi a da banda Pearl Jam, que entrou no álbum Live at Benaroya Hall, de 2003.

25 Minutes to Go – Johnny Cash

25 Minutes to Go – Pearl Jam


Em todos os lugares

A música dessa semana é o super-country “I´ve Been Everywhere”, gravada por Johnny Cash em 1996. Ela foi escrita pelo australiano Geoff Mack, em 1959, e listava diversas cidades da Austrália.

Porém a versão que conhecemos foi adaptada por Hank Snow, em 1962, para lugares da América do Norte e alguns da América do Sul, como é o caso de Argentina e Salvador (Brasil). Depois de Snow, diversos cantores gravaram a música, como Willie Nelson e o grande Johnny Cash.

“I’ve Been Everywhere” também já foi utilizada em peças publicitárias. A maioria por empresas de telecomunicações, sobretudo de banda larga. Recentemente, foi criado o The Everywhere Project, onde convidaram designers e ilustradores para criar etiquetas de bagagem (foto) para cada cidade listada na versão americana.

Johnny Cash gravou a música para o álbum American II: Unchained, o segundo da série American. E, assim como Cash faria com várias outras músicas, sua versão ficou tão boa que muita gente pensa que a canção foi criada por ele.